Acabou-se o casulo

Conta a história que um homem ao passear todos os dias deparava-se com um casulo. Os dias se sucediam e sua impaciência crescia. Angustiado, olhou numa bela manhã para a lagarta que ele não conhecia e que julgava presa no casulo. Sonhou com a borboleta bela que sairia de dentro e que voaria com a liberdade pelo campo. Apressado e inquieto olhou para todos os lados e não vendo ninguém abriu o casulo para que a bela borboleta saísse. Ela, saiu. Voou alguns metros e como não estivesse pronta, morreu...
Casulo também significa uma cápsula que envolve uma semente. Semente esta que pode ser uma criança que prepara seu crescimento. Atualmente não existem mais rituais de passagem criança-adolescente. Lembro-me de como era difícil conquistar o primeiro soutien, o primeiro batom, o primeiro salto alto, a meia fina com o fio reto, o primeiro namorado. Existia o baile das debutantes que só era permitido para as meninas com 15 anos. Era a entrada na sociedade. Do ginásio para o colegial, hoje segundo grau o que marcava era a saia justa ao invés da saia pregueada que não limitava os movimentos. A saia justa exigia uma postura de mulher. Passos moderados e pernas bem cruzadas. Nada de pernas abertas. Afinal, tínhamos sido preparadas para saber ser uma mulher e os segredos deviam ser escondidos. Não que isto impedisse os jogos de queimado e de voley. Mas, algumas saias saiam rasgadas. Para os meninos, o símbolo maior eram as calças compridas. Nanicos usavam calças curtas. Sinal de que eram guris e que não serviam para namorar.
Hoje, meninas de 3 anos exigem batom. Andam de tamancos e parecem pequenas anãs. Não sabem se crianças ou adolescentes. Fingem-se de mulheres - com a cumplicidade dos pais - e alcançando a puberdade com medo do mundo lá fora, muitas criam seu próprio casulo - seja pela gordura, seja pela magreza. Pode ser uma rebeldia contra os padrões estimulados pela mídia, mas, de qualquer maneira, não estão prontas tal qual a borboleta para enfrentarem o mundo lá fora... E nós, mais velhos, tal qual o homem ansioso, não estamos dando tempo para que a criança amadureça e torne-se um adulto livre. Estamos formando pessoas presas ao convencional... Mas, isto já é papo para outro dia...

Por Vera Maria Jacques